CARTÃO-POSTAL


Ainda me recordo de ter recebido dois cartões-postais de amigas da infância. Uma delas viajou para Fortaleza e mandou um cartão-postal da praia de Cumbuco, com extensas dunas de areias e águas cristalinas. O outro cartão foi de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, com a imagem da entrada de uma rochosa gruta. Ainda não tinha visitado estes locais, mas através destas cartas ilustrativas pude visualizar os lugares mais interessantes das regiões.

O cartão-postal é uma ótima recordação da região visitada ou um agradável meio de comunicação com ilustrações, em geral, fotografias dos principais pontos turísticos ou dos objetos culturais de determinada localidade. Estas correspondências, quase sempre coloridas, destacando a cultura regional também poderá integrar uma valiosa coleção representando as inesquecíveis viagens da minha vida.

Os pontos turísticos da nossa cidade-natal, às vezes, não são tão valorizados pelos nativos do local quanto pelos turistas, que vislumbram determinada região pela primeira vez. Neste olhar fotográfico, que registra tudo, nada passa despercebido, como as multicores das belezas naturais, os detalhes dos desconhecidos cenários ou ainda os trejeitos dos moradores.

Os turistas que visitam Salvador, normalmente, têm um roteiro garantido no Centro Histórico da Cidade, o Pelourinho, com casarões e sobrados inspirados na arquitetura barroca portuguesa. Além disso, desfrutam da belíssima vista da Baía de Todos os Santos no trajeto do Elevador Lacerda e por fim se refrescam nas águas mornas do Farol da Barra com a linda paisagem do pôr-do-sol num concorrido fim de tarde no verão baiano.

Nos cartões-postais de Salvador alguns pontos turísticos são ressaltados pelas suas belezas arquitetônicas, naturais ou ainda pela sua funcionalidade para a população local. Os melhores lugares da capital baiana estão registrados e imortalizados em canções, poesias, pinturas, fotografias ou, simplesmente, em cartões-postais...

Negros conscientizados
Cantam e tocam no Pelô
Negros conscientizados
Cantam e tocam no Pelô
Pelourinho, primeiro mundo
Cartão Postal de Salvador (...)
(Trecho da música "Cartão Postal", Pierre Onassis)

O nome Pelourinho é referente aos antigos "Paus de Arara", onde os escravos eram castigados pelos autoritários senhores de engenho. Antigamente, o "pelourinho" era construído num local afastado do centro da cidade, mas para demonstrar sua autonomia e poder diante da população, os senhores latifundiários ergueram o "Centro Histórico" no meio da cidade de Salvador.

Os escravos eram castigados através de chicotadas em praça pública diante de toda a população durante o período colonial. Por isso o Pelourinho tornou-se um ponto de referência na região e nomeou o antigo centro da cidade, que atualmente chama-se Centro Histórico de Salvador.

O termo "pelourinho" se popularizou em todo o mundo e passou a denominar a extensão do conjunto arquitetônico barroco-português, compreendida entre o Terreiro de Jesus e a Igreja do Passo, em Salvador.

Do século XVI até o início do século XX, o poder político na Bahia emanava do Pelourinho. O bairro era composto pela aristocracia soteropolitana, ou seja, os senhores de engenho, os políticos, os grandes comerciantes e o clero, por isso a influência européia na arquitetura e o grande número de igrejas numa área geográfica tão pequena.

Nos anos 90, com a revitalização da região, o Pelourinho, passou a difundir a cultura baiana para os turistas, através da exposição de artesanatos locais, apresentações de artistas e comidas tradicionais da terra. Devido a esta forte representação baiana, o Centro Histórico virou um dos cartões-postais da cidade.

Salvador, 26 de dezembro de 1997

Estimado André,

No Natal deste ano resolvi conhecer o famoso Centro Histórico de Salvador, pois minha mãe faria uma apresentação teatral - um dos seus passatempos prediletos e temporários. Nesta época do ano, todos os pontos turísticos são ornamentados com objetos natalinos e imensas árvores de natal. O local da apresentação seria na escadaria de uma das igrejas do Pelourinho.

Os atores precisariam chegar mais cedo ao local para participar do ensaio final e resolver os últimos detalhes para a apresentação do coral e auto natalino. Mas, como o evento estava previsto para as dezenove horas, resolvi convidar uma amiga para prestigiar o evento e me acompanhar mais tarde nesta nova descoberta. As ruas de paralelepípedo parecem estreitas diante de tantas pessoas em movimentação e os artesanatos dão à impressão de saltarem de dentro das lojas, devido as exposições nas portas dos estabelecimentos comerciais e a gritaria dos vendedores, insistindo para você conhecer os objetos.

No Centro Histórico de Salvador você distingue quem é turista e quem é da terra pelo molejo do andar ou pelo sotaque da voz. A iluminação noturna destaca o colorido dos casarões e o grande número de igrejas no local. Que linda visão... em cada esquina é possível avistar mulheres trançando os cabelos das pessoas, principalmente daquele turista encantado com a cultura afro-brasileira. O cheiro de acarajé frito na hora ou os variados tipos de moquecas que exalam dos restaurantes é um apelo para você conhecer a culinária baiana. Aos meus dezesseis anos tive a oportunidade de conhecer o Pelourinho, a verdadeira representação da cultura baiana e da efervescência do povo soteropolitano.

Você já foi à Bahia, nega? Não? Então vá! (...)
Nas sacadas dos sobrados
da velha São Salvador
há lembranças de donzelas
do tempo do imperador.
Tudo, tudo na Bahia
faz a gente querer bem.
A Bahia tem um jeito
que nenhuma terra tem.

(Trecho da música "Você já foi à Bahia", Dorival Caymmi).

Em dezembro de 1873 foi inaugurado o "Elevador Lacerda", com 72 metros de altura, o correspondente a 191 pés de altitude. Este elevador permitiu a ligação entre a Cidade Alta e a Cidade Baixa e passou a ser o principal meio de transporte da população baiana. O Elevador Lacerda é um imponente monumento, que foi idealizado pelo comerciante Antônio Francisco de Lacerda e construído pelo seu sócio e irmão, o engenheiro Augusto Frederico de Lacerda.

Na inauguração recebeu o nome de "Elevador Hidráulico da Conceição da Praia", popularmente conhecido como "Elevador Parafuso", com apenas uma torre e dois elevadores hidráulicos funcionando. Em 1896 foi renomeado e passou a se chamar "Elevador Lacerda", em homenagem ao seu idealizador. No ano de 1930 adicionaram mais dois elevadores e uma nova torre, totalizando quatro cabines e duas torres. Uma que sai da rocha e perfura a Ladeira da Montanha, equilibrando as cabines e a outra paralela a primeira torre, porém mais visível aos olhares curiosos das pessoas. Dois elevadores passam por dentro de uma rocha e as outras duas cabines ficam expostas no trajeto, possibilitando uma maravilhosa visão da Cidade Baixa e da Baía de Todos os Santos.

Salvador, 15 de agosto de 2003

Querida Adriana,

Enquanto realizava um trabalho da graduação para a matéria de Jornalismo Impresso, em que os próprios alunos produziriam as reportagens que seriam publicadas no Jornal Laboratório da instituição lembrei de quando você me contou sua experiência pela Cidade Baixa nas suas férias do ano passado. A partir da definição das pautas, meu grupo ficou encarregado de cobrir assuntos na área do Comércio, na Cidade Baixa. Eu só conhecia o bairro através do que as pessoas me falavam. O local faz jus, literalmente, ao nome, pois apresenta um ambiente de vendas, mercados paralelos e estabelecimentos comerciais, que revendem inúmeros objetos e lembranças da cidade.

Nele, próximo ao Mercado Modelo, está um dos principais cartões-postais de Salvador, O Elevador Lacerda. Por cinco centavos, eu e algumas colegas resolvemos experimentar a sensação de andar neste enorme monumento histórico. A fila de pessoas, dando voltas no quarteirão não desmotivou a vontade de ver a paisagem da costa marítima e das construções urbanas. Os trinta segundos do percurso é pouco para satisfazer nossos olhares deslumbrados com tanta beleza natural e arquitetônica.

O Elevador Lacerda para algumas pessoas é funcional, pois serve como um meio de transporte eficiente e rápido. Mas, naquele dia, proporcionou uma imensa sensação de prazer para cinco estudantes de jornalismo, que estavam aprendendo o exercício da futura profissão e pôde contemplar aquela moldura viva; a vista da Cidade Baixa, no trajeto de um dos mais antigos monumentos históricos da cidade.

São Salvador
Bahia de São Salvador
a terra do branco mulato
a terra do preto doutor
São Salvador
Bahia de São Salvador
a terra do nosso Senhor
do nosso Senhor do Bonfim
Ô Bahia (...)
(Trecho da música "São Salvador", Dorival Caymmi)

A imagem do Farol da Barra é uma das mais conhecidas de Salvador. Já inspirou compositores nas suas canções e foi retratada em diversas obras artísticas e nos cartões-postais da cidade.

No século XVII, Salvador possuía o porto mais movimentado do continente, mas precisava construir um instrumento para orientar as embarcações que chegavam a Baía de Todos os Santos em busca de pau-brasil e outras madeiras-de-lei, açúcar, algodão, tabaco e outras mercadorias para abastecer o comércio europeu. Após algumas construções rudimentares de orientação para os navegadores que vinham de alto-mar, o Decreto Regencial datado de 6 de julho de 1832 determinou a instalação de um farol mais moderno e fabricado na Inglaterra para substituir o antigo.

O novo farol foi inaugurado em 2 de dezembro de 1839 com um equipamento de luz incandescente a querosene. Mas foi em 1937 que o farol ganhou luz elétrica e se tornou, posteriormente, um dos pontos turísticos mais visitados da capital baiana. Após uma reforma no Forte, foi instalado no Farol da Barra o Museu Náutico da Bahia, que reúne histórias e objetos de navios naufragados na costa baiana. Um dos pontos de encontro no carnaval baiano, o Farol da Barra, ilumina além das embarcações, os casais de namorados, que vão contemplar o polícromo pôr-do-sol da região.

Salvador, 22 de setembro de 2004

Giselma,

Na intenção de captar a imagem do Farol da Barra para um trabalho de graduação, eu e duas colegas fomos até o local. Em meio a banhistas e a enorme quantidade de pedras no mar, conseguimos registrar aquele singular momento, que dura apenas alguns minutos, a mudança do brilho do dia para o obscuro da noite.
Que cenário maravilhoso. Parecia uma pintura. Ao longe, a ilha e duas pequenas embarcações. Entre nós, o verde-azul do mar que nos separava daquelas luzinhas distantes. E a nossa volta vários casais de namorados que contemplavam o pôr-do-sol, dando um ar romântico àquela moldura viva. Quem teria pintado este quadro? Da Vinci? Michelangelo? Picasso? Van Gogh? Não. Obra de Deus. Retratada neste lindo cartão-postal...

Afetuosamente, Camila Danon

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P.S.: Crônica publicada no Livro "Bahia de Perfil - Narrativas de Todos os Santos", uma coletânea de textos sobre a Bahia. Organização de Cremilda Medina e Produção do Curso de Especialização em Jornalismo Contemporâneo do Centro Universitário Jorge Amado.

6 comentários:

Unknown disse...

Amiga adorei mesmo sua narrativa, estava presente no Eevador e no Frol tb, chiques hein. Já sei q vc n tem dificuldades p escrever boas narratinvas, ou materias né, tira de letra. Beijossssssssssss

Unknown disse...

Amiga adorei mesmo sua narrativa, estava presente no Elevador e no Farol tb, chiques hein. Já sei q vc n tem dificuldades p escrever boas narratinvas, ou materias né, tira de letra. Beijossssssssssss

Anônimo disse...

Hum...cartões postais, massa!!
dica para próxima matéria:
pontos da cidade que estão em seu memória...situações engraçadas, trágicas pelas quais você passou...e por aí vai...

Adriana Rodrigues disse...

mto boa a postagem.

Um tour cultural.

Adoro cartões postais. Desde que naum tenha mulher nua
hahahha

Adriana Rodrigues disse...

ANAlISANDO PARA A PÓS:

Me pareceu mais uma crônica ou um artigo de opinião, sem explorar as características das narrativas da contemporaneidade.

José Carlos Daltozo disse...

Pesquisando sobre cartões-postais no Google, encontrei seu texto. Muito legal. Eu coleciono cartões-postais do mundo inteiro, entre antigos e atuais, desde 1988, tenho atualmente vários milhares na coleção.