CARTÃO-POSTAL


Ainda me recordo de ter recebido dois cartões-postais de amigas da infância. Uma delas viajou para Fortaleza e mandou um cartão-postal da praia de Cumbuco, com extensas dunas de areias e águas cristalinas. O outro cartão foi de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, com a imagem da entrada de uma rochosa gruta. Ainda não tinha visitado estes locais, mas através destas cartas ilustrativas pude visualizar os lugares mais interessantes das regiões.

O cartão-postal é uma ótima recordação da região visitada ou um agradável meio de comunicação com ilustrações, em geral, fotografias dos principais pontos turísticos ou dos objetos culturais de determinada localidade. Estas correspondências, quase sempre coloridas, destacando a cultura regional também poderá integrar uma valiosa coleção representando as inesquecíveis viagens da minha vida.

Os pontos turísticos da nossa cidade-natal, às vezes, não são tão valorizados pelos nativos do local quanto pelos turistas, que vislumbram determinada região pela primeira vez. Neste olhar fotográfico, que registra tudo, nada passa despercebido, como as multicores das belezas naturais, os detalhes dos desconhecidos cenários ou ainda os trejeitos dos moradores.

Os turistas que visitam Salvador, normalmente, têm um roteiro garantido no Centro Histórico da Cidade, o Pelourinho, com casarões e sobrados inspirados na arquitetura barroca portuguesa. Além disso, desfrutam da belíssima vista da Baía de Todos os Santos no trajeto do Elevador Lacerda e por fim se refrescam nas águas mornas do Farol da Barra com a linda paisagem do pôr-do-sol num concorrido fim de tarde no verão baiano.

Nos cartões-postais de Salvador alguns pontos turísticos são ressaltados pelas suas belezas arquitetônicas, naturais ou ainda pela sua funcionalidade para a população local. Os melhores lugares da capital baiana estão registrados e imortalizados em canções, poesias, pinturas, fotografias ou, simplesmente, em cartões-postais...

Negros conscientizados
Cantam e tocam no Pelô
Negros conscientizados
Cantam e tocam no Pelô
Pelourinho, primeiro mundo
Cartão Postal de Salvador (...)
(Trecho da música "Cartão Postal", Pierre Onassis)

O nome Pelourinho é referente aos antigos "Paus de Arara", onde os escravos eram castigados pelos autoritários senhores de engenho. Antigamente, o "pelourinho" era construído num local afastado do centro da cidade, mas para demonstrar sua autonomia e poder diante da população, os senhores latifundiários ergueram o "Centro Histórico" no meio da cidade de Salvador.

Os escravos eram castigados através de chicotadas em praça pública diante de toda a população durante o período colonial. Por isso o Pelourinho tornou-se um ponto de referência na região e nomeou o antigo centro da cidade, que atualmente chama-se Centro Histórico de Salvador.

O termo "pelourinho" se popularizou em todo o mundo e passou a denominar a extensão do conjunto arquitetônico barroco-português, compreendida entre o Terreiro de Jesus e a Igreja do Passo, em Salvador.

Do século XVI até o início do século XX, o poder político na Bahia emanava do Pelourinho. O bairro era composto pela aristocracia soteropolitana, ou seja, os senhores de engenho, os políticos, os grandes comerciantes e o clero, por isso a influência européia na arquitetura e o grande número de igrejas numa área geográfica tão pequena.

Nos anos 90, com a revitalização da região, o Pelourinho, passou a difundir a cultura baiana para os turistas, através da exposição de artesanatos locais, apresentações de artistas e comidas tradicionais da terra. Devido a esta forte representação baiana, o Centro Histórico virou um dos cartões-postais da cidade.

Salvador, 26 de dezembro de 1997

Estimado André,

No Natal deste ano resolvi conhecer o famoso Centro Histórico de Salvador, pois minha mãe faria uma apresentação teatral - um dos seus passatempos prediletos e temporários. Nesta época do ano, todos os pontos turísticos são ornamentados com objetos natalinos e imensas árvores de natal. O local da apresentação seria na escadaria de uma das igrejas do Pelourinho.

Os atores precisariam chegar mais cedo ao local para participar do ensaio final e resolver os últimos detalhes para a apresentação do coral e auto natalino. Mas, como o evento estava previsto para as dezenove horas, resolvi convidar uma amiga para prestigiar o evento e me acompanhar mais tarde nesta nova descoberta. As ruas de paralelepípedo parecem estreitas diante de tantas pessoas em movimentação e os artesanatos dão à impressão de saltarem de dentro das lojas, devido as exposições nas portas dos estabelecimentos comerciais e a gritaria dos vendedores, insistindo para você conhecer os objetos.

No Centro Histórico de Salvador você distingue quem é turista e quem é da terra pelo molejo do andar ou pelo sotaque da voz. A iluminação noturna destaca o colorido dos casarões e o grande número de igrejas no local. Que linda visão... em cada esquina é possível avistar mulheres trançando os cabelos das pessoas, principalmente daquele turista encantado com a cultura afro-brasileira. O cheiro de acarajé frito na hora ou os variados tipos de moquecas que exalam dos restaurantes é um apelo para você conhecer a culinária baiana. Aos meus dezesseis anos tive a oportunidade de conhecer o Pelourinho, a verdadeira representação da cultura baiana e da efervescência do povo soteropolitano.

Você já foi à Bahia, nega? Não? Então vá! (...)
Nas sacadas dos sobrados
da velha São Salvador
há lembranças de donzelas
do tempo do imperador.
Tudo, tudo na Bahia
faz a gente querer bem.
A Bahia tem um jeito
que nenhuma terra tem.

(Trecho da música "Você já foi à Bahia", Dorival Caymmi).

Em dezembro de 1873 foi inaugurado o "Elevador Lacerda", com 72 metros de altura, o correspondente a 191 pés de altitude. Este elevador permitiu a ligação entre a Cidade Alta e a Cidade Baixa e passou a ser o principal meio de transporte da população baiana. O Elevador Lacerda é um imponente monumento, que foi idealizado pelo comerciante Antônio Francisco de Lacerda e construído pelo seu sócio e irmão, o engenheiro Augusto Frederico de Lacerda.

Na inauguração recebeu o nome de "Elevador Hidráulico da Conceição da Praia", popularmente conhecido como "Elevador Parafuso", com apenas uma torre e dois elevadores hidráulicos funcionando. Em 1896 foi renomeado e passou a se chamar "Elevador Lacerda", em homenagem ao seu idealizador. No ano de 1930 adicionaram mais dois elevadores e uma nova torre, totalizando quatro cabines e duas torres. Uma que sai da rocha e perfura a Ladeira da Montanha, equilibrando as cabines e a outra paralela a primeira torre, porém mais visível aos olhares curiosos das pessoas. Dois elevadores passam por dentro de uma rocha e as outras duas cabines ficam expostas no trajeto, possibilitando uma maravilhosa visão da Cidade Baixa e da Baía de Todos os Santos.

Salvador, 15 de agosto de 2003

Querida Adriana,

Enquanto realizava um trabalho da graduação para a matéria de Jornalismo Impresso, em que os próprios alunos produziriam as reportagens que seriam publicadas no Jornal Laboratório da instituição lembrei de quando você me contou sua experiência pela Cidade Baixa nas suas férias do ano passado. A partir da definição das pautas, meu grupo ficou encarregado de cobrir assuntos na área do Comércio, na Cidade Baixa. Eu só conhecia o bairro através do que as pessoas me falavam. O local faz jus, literalmente, ao nome, pois apresenta um ambiente de vendas, mercados paralelos e estabelecimentos comerciais, que revendem inúmeros objetos e lembranças da cidade.

Nele, próximo ao Mercado Modelo, está um dos principais cartões-postais de Salvador, O Elevador Lacerda. Por cinco centavos, eu e algumas colegas resolvemos experimentar a sensação de andar neste enorme monumento histórico. A fila de pessoas, dando voltas no quarteirão não desmotivou a vontade de ver a paisagem da costa marítima e das construções urbanas. Os trinta segundos do percurso é pouco para satisfazer nossos olhares deslumbrados com tanta beleza natural e arquitetônica.

O Elevador Lacerda para algumas pessoas é funcional, pois serve como um meio de transporte eficiente e rápido. Mas, naquele dia, proporcionou uma imensa sensação de prazer para cinco estudantes de jornalismo, que estavam aprendendo o exercício da futura profissão e pôde contemplar aquela moldura viva; a vista da Cidade Baixa, no trajeto de um dos mais antigos monumentos históricos da cidade.

São Salvador
Bahia de São Salvador
a terra do branco mulato
a terra do preto doutor
São Salvador
Bahia de São Salvador
a terra do nosso Senhor
do nosso Senhor do Bonfim
Ô Bahia (...)
(Trecho da música "São Salvador", Dorival Caymmi)

A imagem do Farol da Barra é uma das mais conhecidas de Salvador. Já inspirou compositores nas suas canções e foi retratada em diversas obras artísticas e nos cartões-postais da cidade.

No século XVII, Salvador possuía o porto mais movimentado do continente, mas precisava construir um instrumento para orientar as embarcações que chegavam a Baía de Todos os Santos em busca de pau-brasil e outras madeiras-de-lei, açúcar, algodão, tabaco e outras mercadorias para abastecer o comércio europeu. Após algumas construções rudimentares de orientação para os navegadores que vinham de alto-mar, o Decreto Regencial datado de 6 de julho de 1832 determinou a instalação de um farol mais moderno e fabricado na Inglaterra para substituir o antigo.

O novo farol foi inaugurado em 2 de dezembro de 1839 com um equipamento de luz incandescente a querosene. Mas foi em 1937 que o farol ganhou luz elétrica e se tornou, posteriormente, um dos pontos turísticos mais visitados da capital baiana. Após uma reforma no Forte, foi instalado no Farol da Barra o Museu Náutico da Bahia, que reúne histórias e objetos de navios naufragados na costa baiana. Um dos pontos de encontro no carnaval baiano, o Farol da Barra, ilumina além das embarcações, os casais de namorados, que vão contemplar o polícromo pôr-do-sol da região.

Salvador, 22 de setembro de 2004

Giselma,

Na intenção de captar a imagem do Farol da Barra para um trabalho de graduação, eu e duas colegas fomos até o local. Em meio a banhistas e a enorme quantidade de pedras no mar, conseguimos registrar aquele singular momento, que dura apenas alguns minutos, a mudança do brilho do dia para o obscuro da noite.
Que cenário maravilhoso. Parecia uma pintura. Ao longe, a ilha e duas pequenas embarcações. Entre nós, o verde-azul do mar que nos separava daquelas luzinhas distantes. E a nossa volta vários casais de namorados que contemplavam o pôr-do-sol, dando um ar romântico àquela moldura viva. Quem teria pintado este quadro? Da Vinci? Michelangelo? Picasso? Van Gogh? Não. Obra de Deus. Retratada neste lindo cartão-postal...

Afetuosamente, Camila Danon

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P.S.: Crônica publicada no Livro "Bahia de Perfil - Narrativas de Todos os Santos", uma coletânea de textos sobre a Bahia. Organização de Cremilda Medina e Produção do Curso de Especialização em Jornalismo Contemporâneo do Centro Universitário Jorge Amado.

Obrigada Cremilda Medina!!!!!




A turma da pós-graduação no último dia da aula de Cremilda Medina!

Visita ao dentista

Vou chegar atrasada, mas tudo bem, quem vai ter pressa para colocar dois mini-implantes e perfurar a gengiva? Esta dentista toda hora inventa uma novidade, ainda bem que não vou precisar colocar aqueles aparelhos em circunferência, que tomam a cara toda, mas também depois de tantas inovações na área da saúde, acho que já inventaram algo melhor e que não seja motivo de chacota entre a turma. A consulta estava marcada para às 9h, mas meus péssimos hábitos noturnos não me deixaram chegar a tempo. Minha mãe fala que pareço um zumbi e ainda não consigo fazer uma coisa de cada vez, tem que ser tudo ao mesmo tempo, ligo o computador e vou ler e-mails, mas a televisão tem que estar ligada para aguardar o programa do Jô, depois de alguns minutos batendo papo no msn, minha garganta fica seca, meu estômago começa a roncar, mas é tarde, não vou comer uma hora dessas. Então levanto, vou na cozinha e me satisfaço com um copo de leite, dá para agüentar até amanhã!

Cheguei no consultório às 9h15 e, pacientemente, aguardo folheando algumas revistas de fofocas. Nossa, eu estou sozinha, vou ser a próxima, começo a sentir aquele friozinho na barrida, uma mistura de medo e ansiedade, quero que tudo acabe logo. De repente, aquela porta que desliza em trilhos se abre, sai Verônica, a funcionária multiuso, é assistente do dentista quando ele está realizando algum procedimento cirúrgico e secretária, atende os telefones, anota recados, marca consultas e...enfim, ela veio me avisar que em 15 minutos seria atendida. Poxa, o confronto com o dentista estava próximo, mas vou relaxar, já estou acostumada, já arranquei tantos dentes, dentiqueiro, será que é pior? Prefiro não pensar!

Saiu uma paciente, agora vou ser atendida, mas a voz de Verônica avisando para entrar não me intimida, já cheguei até aqui, não adianta fugir, quero ficar com minha dentição perfeita, parecendo comercial de creme dental, é, a vaidade requer alguns esforços, e que esforços... Dr. Bruno me recepciona como um velho amigo, parece que já nos conhecemos há anos, mas, na verdade, esta é a segunda vez que nos vimos pessoalmente, mas seus olhos verdes me transmitiam paz e seus dois metros de altura me passavam segurança. Ao entrar na sala fui logo tratar da parte burocrática, o pagamento, como alguém pode pagar para sofrer na cadeira de dentista? Tratamento odontológico é um investimento, espero que valha a pena. Depois de tudo acertado, ele resolveu colocar a vestimenta, entrou no banheiro do consultório para trocar seu paletó e gravata por uma blusa de manga verde, aquele tecido apropriado para cirurgia, idêntico a roupa dos personagens da série plantão médico, que passava na tv.

Verônica agora desempenha o papel de assistente e me orienta a sentar na cadeira. Começa a limpar meu rosto com álcool, poxa, esqueci de ir ao banheiro, Verônica ficou retada, depois de esterilizar tudo, ela resolve ir ao banheiro, porque não foi antes quando estava na sala de espera, coitada ela deve estar com medo, faz parte da função de Verônica e mais uma vez ela repete o processo, pega a pinça, pinça o algodão, molha o algodão no álcool e limpa cada centímetro do meu rosto. Que paciência! Sua feição é natural, transmite tranqüilidade, acho que ela quer me acalmar, mas quando ela pegou aquele lençol, porque parece um lençol de tão grande, ela cobriu todo o meu rosto até a cintura com um pano, só com uma abertura na região da boca e manda colocar um óculos para proteger os respingos, mas respingos de que? Eu indaguei, mas ela preferiu dar um belo sorriso e mostrar sua dentição perfeita, que inveja!

Verônica sabia que seu silêncio seria melhor do que eu ouvir a verdade. Ela não precisa saber de tudo que vai acontecer no procedimento cirúrgico e a anestesia que Dr. Bruno vai aplicar nela vai minimizar seu sofrimento, mas Verônica não sabia que durante o processo sua fisionomia iria mudar e fazer caras assustadoras. Sua testa franzia, contei cada franzido da testa de Verônica, tem cinco quando ela está com nojo e seis quando ela não quer olhar, mas Verônica não pode transmitir medo para não assustar o paciente e Dr Bruno sinaliza, presta atenção, coloca o sugador, isto aqui é osso e isto aqui é dente Verônica. Hammmm, ela não quer saber o que é o que, ela fica mentalizando coisas boas, chocolate, praia, o beijo do seu namorado mais tarde quando sair do consultório, que estará lhe esperando sentado na sua moto, comprada em financiamento, com muito esforço do seu árduo trabalho de motoboy, qualquer coisa que pudesse esquecer aquele jorrar de sangue e tranqüilizar a paciente.

A cirurgia que era para durar 1h foi o dobro do tempo previsto. Dr. Bruno já estava corcunda e com dores na coluna, acertou mais alguns detalhes, esta é a pior parte, tenho que colar os mini implantes minuciosamente, pois um erro tem que refazer tudo de novo. E ainda preciso atender alguns pacientes antes de encerrar para o horário do almoço. Mas que almoço, não vai dar tempo, o jeito vai ser pedir alguma comida aqui no consultório mesmo. Na parte da tarde também tem mais duas cirurgias, a de Ana Paula e Daniela, será que Verônica ligou para as meninas para confirmar? Espero que sim, pois esta já é a segunda remarcação por falta de atenção de Verônica. Hoje acho que vou comer besteira, já sei vou experimentar o sherec menu, hummmm, que delícia, deve ser muito gostoso, adoro queijo chedar... dois hamburguês, alface, queijo, molho especial, cebola e picles num pão de gergelim, nossa, aprendi a musiquinha da Mc Donalds por osmose de tanto ouvir, vou parar de assistir tv enquanto estiver atendendo aos pacientes. Até que enfim, terminei, será que Verônica também vai querer experimentar o sherec menu? Depois pergunto. Esta cirurgia foi cansativa, vou me lavar e atender o próximo.

Nossa, estou tonta, vou ficar mais um pouquinho na cadeira, acho que é normal, Dr. Bruno disse que é normal, muito tempo deitada na mesma posição. Ele deve ter pensado, que menina corajosa, ele é tão gentil, mas eu vi uma aliança na mão direita, ou será esquerda? Não importa, é comprometido de qualquer jeito, mas não custa nada admirar. Daqui a uma semana eu volto para tirar os pontos, outro sofrimento, será que dói? Até mais Verônica, sua fisionomia caricatural sempre estará marcada na minha lembrança.
[Texto baseado na aula de fluxo de consciência, de jornalismo literário]

As dietas milagrosas...

Já perdi a conta de quantas dietas e tamanhas loucuras eu já fiz para atingir o peso ideal na balança. E o pior é que eu sempre acabo envolvendo um cúmplice para compartilhar destas loucuras, talvez por achar que duas pessoas é um incentivo a mais para concluir os tais regimes, ou apenas ter alguém para controlar as minhas recaídas e as minhas oscilações de humor. Desta vez, a vítima foi minha mãe. Consegui convencê-la da importância de ter uma reeducação alimentar, apelei para os recentes exames que ela tinha feito, a sua alta taxa de colesterol, e ela acabou cedendo. Num belo dia, assistindo a um destes programas vespertinos de fofocas e futilidades femininas, vi os depoimentos de algumas celebridades sobre as técnicas que utilizavam para manter seus corpos sarados e esbeltos... dentre as inúmeras opções apresentadas para afinar a silhueta, escolhi a dieta da sopa e comuniquei a minha mãe.
- Poxa mãe, descobri uma dieta revolucionária da sopa, várias artistas já fizeram e perderam 5kg em uma semana, mas tem que seguir direitinho, só pode tomar sopa durante sete dias!
- Podemos começar na famosa segunda, sugeriu minha mãe.

Então, passado o fim de semana, os exageros e as compulsões alimentares, na segunda-feira, como havíamos definido, começamos a bendita dieta da sopa. Naquele dia resolvi acordar mais tarde para não ter que me deparar com aquela triste realidade, só sopa, quem agüenta? Pois é, mais o sacrifício maior foi para minha mãe, que não estava acostumada a mudar suas rotinas alimentares. Ela não conseguiu manter a dieta nem por um dia, no final da tarde, a fome atacou seu psicológico e ela acabou devorando vários alimentos e me desestimulando mais uma vez...

Mesmo assim eu consegui prosseguir a dieta da sopa por mais três dias insuportáveis, mas não foi o suficiente, acabei desistindo antes de completar a semana e como sempre não atingi a meta dos 5kg.
Decidi mudar de parceiro, pois com minha mãe os regimes nunca chegariam a um resultado eficaz. Que tal uma amiga, que também esteja acima do peso e que tivesse força de vontade o suficiente para compartilhar meus anseios e se submeter as minhas dietas esdrúxulas? Neste momento, lembrei de Dany, uma amiga da faculdade, que idolatrava os doces, as guloseimas e tudo mais que pudesse engordar só de olhar e claro, era tão louca quanto eu. Nesta época eu e Dany precisávamos perder em média 5kg cada uma, como eu sou mais baixinha o peso sobressaia bem mais, porém em Dany as gordurinhas não eram visíveis, era apenas “síndrome da mulher gorda”, ou seja, nunca está satisfeita com o corpo e sempre acha que precisa emagrecer.
Nós ainda estávamos cursando a graduação de jornalismo, então seria mais fácil combinar os detalhes do regime, já que nos víamos todos os dias, uma iria disciplinar a outra e dividir as crises de mau humor, que inevitavelmente surgiriam e que, infelizmente, descontávamos em terceiros...



Primeiro dia de mais um regime, sem nome, este, eu e Dany que criamos e, sinceramente, acreditávamos que pudesse dar certo. Nós inventamos uma nova técnica para perder calorias, não perder o apetite e o prazer de saborear os alimentos. Podíamos comer de tudo, ou quase tudo, porém, em pequenas quantidades, ou, como queríamos um resultado em curto prazo, decidimos não comer quase nada.
No café-da-manhã comíamos dois biscoitos cream craker, com uma xícara de café, pois café não engorda; o almoço era a base de verduras e um grelhado, só carne branca e a noite algum líquido, suco integral, leite desnatado, mas sem açúcar, acompanhado de mais dois biscoitos. Após as 18h só poderia beber água. Confesso que foi uma dieta meio drástica, mas no auge da loucura, e o prazer de se sentir mais leve, compensava. No entanto, esta leveza era resultado da fraqueza e da falta de nutrientes que o corpo precisava. Começamos a sentir muito sono, tonturas, mas achava que era normal já que tínhamos diminuído consideravelmente a ingestão de alimentos.

No segundo dia, a balança já registrava 1kg a menos! Ufa... o sacrifício estava valendo a pena. Neste dia fomos ao shopping, depois das aulas na faculdade para comprar alguns alimentos que faltavam para o regime, como umas barrinhas de cereais, adoçante, enfim, tudo light! Mas a sensação de fraqueza e mal estar já estava visível em nossas fisionomias. Eu não sentia vontade de fazer mais nada, não tinha força. Comecei a ficar preocupada, mas não comentei nada com Dany, pois não queria assustá-la e nem desanimá-la. Porém, ela também estava com os mesmos sintomas e apreensões e também resolveu se calar.
Após comprar todos os ingredientes, pesar mais uma vez na balança para comprovar a diminuição do peso, decidimos retornar para casa, pois estava tão fraca, que nem o prazer de olhar as vitrines superava aquele mal estar.
Paf... puf... pápápápápápápápápápápápápápáp... alguém gritou:
- Acode! A menina caiu das escadas!
Quando eu olhei para o lado, confirmei minhas suspeitas, Dany tinha caído e rolado escada abaixo! Foi tão rápido e um círculo de pessoas formaram-se a sua volta, tentando ajudar a levantá-la. Eu não sabia o que fazer. Só queria verificar se ela estava bem, respirando, lúcida, e graças a Deus estava, tirando alguns arranhões e uma enorme dor de cabeça. Nossa, que susto! Aquele dia, precisei ligar para o pai dela para ir buscá-la e ele, claro, ficou muito nervoso e preocupado. Resolvi esperar o pai de Dany chegar e só assim ir embora. No caminho de volta para minha casa fiquei pensando e refletindo o que as nossas ações imprudentes resultaram e que por pouco minha amiga não teve um acidente mais grave e com conseqüências irreversíveis.

Nossos pais proibiram o tal regime, até eu fiquei receosa de levar adiante, percebi o que as pessoas são capazes de fazer para esculpir seu corpo, baseado em padrões de belezas impostos pela mídia, que cultuam aquelas modelos magricelas, as atrizes famosas que aparecem em novelas, filmes e revistas de fofocas, enfim, desencanei... aquele regime foi o maior absurdo que já fiz na minha vida. Acho que depois desta, eu e Dany aprendemos a lição... não somos nutricionistas ou profissionais capacitados de saúde para estabelecer uma dieta alimentar. Então, decidimos seguir uma dieta fundamentada, com argumentos embasados e balanceada por verdadeiros profissionais.

O cardápio já estava todo preparado, claro que resolvemos incrementar, por nossa conta e risco, mas desta vez, pesquisamos algumas revistas, sites, e decidimos recomeçar sem exageros. Liguei para ela comunicando.
- Amiga vamos fazer agora a dieta dos pontos! Contamos todas as calorias dos alimentos e não ultrapassamos a 1.2000 calorias. Desta forma nossos pais não vão poder interferir já que vamos comer tudo, balanceado, ao invés de fazer somente três refeições diárias.

Quem achou que eu iria desistir totalmente dos meus objetivos, se enganou. As dietas milagrosas as vezes trazem alguns resultados, outras não, mas a palavra dieta já está intrínseca no vocabulário feminino. E no meu contexto, sempre tem espaço para mais uma... Alguém conhece algum regime inovador? Rsrsrrsrsrsrsrrsrrs
[Atividade produzida na aula de Jornalismo Literário, crônica baseada em fatos verídicos]

Amigos para sempre...

Montagem by Mila Danon

Amigo é coisa para se guardar
Debaixo de 7 chaves,
Dentro do coração,
assim falava a canção que na América ouvi,
mas quem cantava chorou ao ver o seu amigo partir,
mas quem ficou, no pensamento voou,
o seu canto que o outro lembrou
E quem voou no pensamento ficou,
uma lembrança que o outro cantou.
Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito,
mesmo que o tempo e a distância digam não,
mesmo esquecendo a canção.
O que importa é ouvir a voz que vem do coração.
Seja o que vier,
venha o que vier
Qualquer dia amigo eu volto pra te encontrar
Qualquer dia amigo, a gente vai se encontrar.
Aproveito pra agradecer à meus amigos,
Têu, Dany, Rosa, Sarinha, Giselma, Kírlia, Carol, Lan, Neubler, os amigos da pós-graduação, do curso de inglês e tantos outros que fiz e ainda vou fazer...
E dizer que mãe vc sempre vai ser minha melhor amiga!!!

(Letra da música "Canção da América", de Milton Nascimento)